Um cenário devastador marcou a última semana na República Democrática do Congo. Pelo menos 148 pessoas perderam a vida após um barco de madeira motorizado, chamado HB Kongolo, pegar fogo e virar no rio Congo. A tragédia ocorreu na terça-feira, 15 de abril, próximo à cidade de Mbandaka, no noroeste do país. Segundo as autoridades locais, centenas de pessoas ainda estão desaparecidas, e os números de vítimas podem aumentar nas próximas horas.
O acidente mais uma vez traz à tona a dura realidade do transporte fluvial na região. Superlotação, embarcações precárias e ausência de segurança mínima tornam essas tragédias cada vez mais frequentes e previsíveis.
De acordo com informações divulgadas pela mídia internacional, cerca de 500 passageiros estavam a bordo. O barco havia partido do porto de Matankumu com destino ao território de Bolomba. Entre os viajantes, havia muitas mulheres e crianças, o que torna o desfecho ainda mais trágico.
Como tudo aconteceu
Testemunhas relataram que o incêndio teve início quando uma mulher, cozinhando a bordo, causou uma faísca que entrou em contato com combustível mal armazenado. O fogo se alastrou rapidamente pela estrutura de madeira da embarcação, e o pânico tomou conta dos passageiros.
Sem equipamentos de segurança, muitos pularam desesperadamente no rio para tentar escapar das chamas. Infelizmente, grande parte dessas pessoas não sabia nadar, o que contribuiu para o alto número de mortes por afogamento.
Resgate em meio ao caos
A operação de resgate começou imediatamente após o incidente. Equipes locais, com apoio de voluntários e organizações como a Cruz Vermelha, atuaram sem parar para tentar localizar sobreviventes e corpos nas águas turvas do rio Congo.
A prefeitura de Mbandaka foi transformada em abrigo emergencial para cerca de 100 sobreviventes. Já os feridos, especialmente os que sofreram queimaduras graves, foram encaminhados para hospitais próximos, onde recebem tratamento médico.
Mesmo com todos os esforços, os resgates são dificultados pelas condições naturais da região. A forte correnteza, a vegetação densa e a falta de recursos adequados limitam o alcance das buscas.
Barcos fluviais: um risco constante na RD Congo
Infelizmente, esse não é um caso isolado. Acidentes com embarcações são frequentes na República Democrática do Congo, especialmente em regiões onde o transporte por rios é a única opção viável para a população.
A maioria dos barcos em operação são feitos de madeira, construídos artesanalmente e com pouca ou nenhuma manutenção. O excesso de passageiros é praticamente uma regra, não uma exceção. E as fiscalizações, quando existem, são frágeis e ineficazes.
Para muitos congoleses, viajar nesses barcos é a única maneira de chegar a centros urbanos, mercados e serviços de saúde. No entanto, cada viagem é também um risco de morte.
Um histórico de tragédias recorrentes
A tragédia de abril de 2024 não é a primeira, nem será a última se nada mudar. Em março deste ano, 78 pessoas morreram no Lago Kivu quando uma embarcação com 278 passageiros virou. Poucos meses antes, em dezembro de 2023, outro barco naufragou no oeste do país, tirando a vida de pelo menos 22 pessoas.
Apesar das recorrentes promessas de reformas e melhorias na segurança dos transportes, a situação permanece a mesma. A ausência de investimento público e a impunidade diante de falhas evidentes contribuem para a continuidade dessa crise silenciosa.
O impacto humano por trás dos números
A dimensão humana dessa tragédia vai muito além das estatísticas. São famílias destruídas, mães que perderam filhos, pais que não conseguiram salvar suas crianças. Relatos de sobreviventes são de cortar o coração.
Uma das sobreviventes, entrevistada por jornalistas locais, contou que perdeu o marido e duas filhas no acidente. Ela só sobreviveu porque conseguiu se agarrar a uma tora de madeira por horas até ser resgatada.
Essas histórias reais geram um impacto profundo, não só nas comunidades afetadas, mas também em toda a população congolesa, que se vê diante de uma realidade cruel e negligenciada.
A resposta das autoridades e a pressão internacional
Após o ocorrido, o governo do Congo declarou luto oficial e prometeu investigar as causas do acidente. No entanto, a população já está cansada de promessas vazias.
Organizações internacionais e grupos de direitos humanos exigem ações imediatas. As demandas são claras: melhoria na fiscalização, proibição do transporte de combustíveis ao lado de passageiros, fornecimento de coletes salva-vidas e capacitação das tripulações.
O mínimo que se espera é que o sofrimento das vítimas não seja em vão, e que esta tragédia sirva de catalisador para mudanças concretas.
Conclusão: é hora de agir com urgência
A tragédia no rio Congo é o reflexo cruel de um sistema de transporte colapsado. A perda de 148 vidas – com centenas ainda desaparecidas – escancara o abandono histórico de uma população que depende, diariamente, de meios inseguros para sobreviver.
Chegou a hora de interromper esse ciclo de dor. Reformas estruturais são urgentes. Sem elas, continuaremos assistindo a tragédias que poderiam ser evitadas com medidas simples e vontade política.
A memória das vítimas precisa ser honrada com ação. Não há mais espaço para negligência. A cada vida perdida, um país inteiro sangra.