A morte do padre Matteo Balzano, de apenas 35 anos, deixou em choque a pequena cidade de Cannobio, no norte da Itália, e reacendeu um debate profundo e necessário sobre a solidão e o sofrimento psicológico dentro da Igreja.
Dom Matteo foi encontrado sem vida em sua residência no último sábado. A notícia de seu suicídio não apenas abalou a comunidade local, mas também surpreendeu a hierarquia católica, que até então desconhecia qualquer sinal de sofrimento mais grave por parte do sacerdote.
Jovem, dedicado e admirado: quem era dom Matteo?
Matteo Balzano era o pároco responsável pela paróquia de Cannobio, uma cidade com cerca de 5 mil habitantes localizada às margens do Lago Maggiore, perto da fronteira com a Suíça. Seu ministério era fortemente voltado para os jovens, e sua presença era vista como uma esperança renovadora para a comunidade.
Com um jeito simples e acessível, Matteo conquistava facilmente aqueles com quem convivia. Justamente por isso, seu gesto extremo gerou tantas perguntas. Ninguém esperava uma tragédia dessa magnitude.
“Nunca buscou ajuda”: o drama silencioso por trás do sorriso
Segundo fontes próximas à Diocese, dom Matteo nunca chegou a procurar ajuda psicológica ou médica para lidar com questões pessoais. A ausência de sinais claros de sofrimento aprofunda ainda mais a dor dos que ficaram.
O padre Massimo Angelelli, responsável pela pastoral da saúde da Conferência Episcopal Italiana (CEI), fez um apelo tocante:
“Quando alguém escolhe um caminho tão extremo, é porque, naquele momento, acredita que seja a única saída. Mas sempre existe outra opção. Sempre há esperança.”
Esse tipo de declaração ecoa entre muitos religiosos que, apesar de sua fé e vocação, enfrentam batalhas silenciosas e, muitas vezes, solitárias.
Solidão entre padres: um problema ignorado?
A morte de Matteo reacendeu um tema delicado: a solidão vivida por muitos membros do clero. Padres, especialmente em pequenas cidades, costumam viver isolados, com poucas oportunidades de expor suas fragilidades.
O ministro-geral da Ordem dos Frades Menores, padre Massimo Fusarelli, reforçou a urgência de uma mudança de postura:
“É preciso escutar mais. Precisamos reconhecer que nossos sacerdotes também são humanos e precisam de apoio.”
Medo do julgamento impede busca por ajuda
De acordo com um relatório da CEI publicado em 2024, muitas pessoas que não se encaixam nos padrões sociais impostos acabam se sentindo isoladas. Isso é especialmente verdadeiro entre os jovens — e, como lembrou padre Angelelli, os religiosos também fazem parte desse mundo.
O medo de serem rotulados ou estigmatizados faz com que muitos padres evitem buscar apoio psicológico, mesmo quando claramente necessitam.
“A ideia de que podemos resolver tudo sozinhos precisa ser quebrada”, disse Angelelli.
Último adeus: emoção marcou o funeral de dom Matteo
O funeral de dom Matteo aconteceu na manhã de terça-feira, na Igreja de San Vittore, em Cannobio. A cerimônia foi presidida pelo bispo de Novara, dom Franco Giulio Brambilla, que falou com emoção durante a homilia:
“Nesta era em que o sentido da vida parece se apagar, precisamos cuidar mais da alma em tudo o que fazemos.”
Entre as homenagens mais comoventes, destacou-se a leitura feita por uma jovem do oratório da paróquia, onde Matteo trabalhava com dedicação. Em nome dos jovens da comunidade, ela compartilhou uma mensagem que emocionou a todos:
“Você apareceu como um arco-íris depois do temporal. Para nós, não era apenas um ‘dom’; você era, acima de tudo, um amigo.”
Reflexões urgentes: como a Igreja deve agir?
A tragédia trouxe à tona um tema sensível que precisa ser enfrentado com coragem. Não basta apenas homenagear dom Matteo. É preciso agir, mudar estruturas e oferecer caminhos de acolhimento real para os que estão em sofrimento.
Abrir espaço para o diálogo sobre saúde mental dentro da Igreja é uma necessidade urgente. Afinal, como lembrou um dos padres entrevistados, “até os mais fortes podem cair quando estão sozinhos demais”.
Se você ou alguém que conhece precisa de ajuda, procure apoio
A dor pode parecer insuportável, mas há esperança. Falar com alguém é o primeiro passo. No Brasil, o CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio emocional gratuito e sigiloso, 24 horas por dia. Ligue 188 ou acesse cvv.org.br.