A sustentabilidade fiscal é um tema de extrema relevância na América Latina, uma região frequentemente impactada por crises econômicas globais. Recentemente, o Ministro da Economia e Finanças do Paraguai, Carlos Fernandez, destacou como o equilíbrio nas contas públicas pode ser um diferencial estratégico para os países que enfrentam pressões econômicas de vizinhos maiores, como Brasil e Argentina.
O Papel do Paraguai em Meio aos Extremos Econômicos da Região
Entre os extremos de políticas econômicas na América Latina, o Paraguai busca se posicionar como um exemplo de estabilidade. Na Argentina, o presidente Javier Milei implementou um rigoroso programa de austeridade fiscal, resultando no primeiro superávit fiscal em mais de uma década. Por outro lado, no Brasil, dúvidas sobre o comprometimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ajuste fiscal têm causado apreensão nos mercados financeiros.
Nesse contexto, o Paraguai adota uma abordagem equilibrada. Em entrevista recente, Carlos Fernandez explicou que, apesar de não seguir o modelo radical de Milei, o país tem implementado medidas estratégicas para manter as contas públicas sob controle, como cortes em gastos públicos e melhorias na arrecadação tributária.
Resultados Concretos: Redução do Déficit Fiscal
O esforço fiscal do Paraguai tem mostrado resultados sólidos. Em 2022, o país conseguiu reduzir seu déficit fiscal para 2,6% do PIB, com a meta de limitar esse índice a 1,5% até 2026. Em contraste, o Brasil enfrenta um déficit de aproximadamente 10% do PIB, o que limita sua capacidade de resposta a choques externos.
A estratégia paraguaia inclui a venda de títulos globais para financiar o déficit, autorizada pelo orçamento de 2025. Durante o primeiro trimestre do ano, o governo planeja emitir títulos em dólar e em moeda local para substituir dívidas com vencimento em 2026 e 2027.
Avanços na Classificação de Crédito
Graças à gestão fiscal responsável e ao crescimento econômico, o Paraguai conquistou, em 2024, sua primeira classificação de crédito com grau de investimento pela Moody’s, passando de Ba1 para Baa3, com perspectiva positiva. No entanto, o país ainda enfrenta desafios para alcançar avaliações semelhantes pela Fitch Ratings e S&P Global Ratings, devido a preocupações relacionadas à governança e à transparência institucional.
O Ministro Carlos Fernandez minimizou essas preocupações, enfatizando que o governo está comprometido com a redução da corrupção e com a implementação de reformas estruturais. Regulamentações para fortalecer a supervisão de ONGs estão previstas para o primeiro semestre de 2025, visando atender às exigências das agências de classificação.
Política Fiscal e Estabilidade Econômica
Fernandez destacou a importância de políticas fiscais sólidas para evitar pressões inflacionárias. “Se a política fiscal não for ajustada, a política monetária se torna mais rígida devido ao medo dos bancos centrais em relação à inflação”, afirmou. Essa visão reflete o compromisso do Paraguai com a responsabilidade fiscal como alicerce para a estabilidade econômica a longo prazo.
Oportunidades em “Friend-Shoring”
Com o aumento das tensões comerciais globais, o conceito de “friend-shoring” – a relocação de cadeias de produção para países aliados – oferece oportunidades para o Paraguai. Apesar de seu setor manufatureiro ser relativamente pequeno, o Paraguai exportou mais de US$ 1 bilhão em 2024 e mantém relações diplomáticas sólidas com os Estados Unidos e Taiwan, evitando vínculos com a China.
Fernandez vê nisso uma oportunidade estratégica: “Precisamos mostrar aos EUA que o Paraguai é um parceiro confiável e capaz de apoiar políticas que promovam a estabilidade regional”.
Conclusão
A política fiscal sustentável do Paraguai é um modelo de como nações menores podem prosperar em um cenário global desafiador. Com medidas estratégicas, o país tem conseguido reduzir seu déficit fiscal, melhorar sua classificação de crédito e atrair investimentos. Essas ações reforçam sua posição como um exemplo de estabilidade em uma região marcada por extremos econômicos.
Para países que enfrentam desafios semelhantes, a experiência paraguaia oferece lições valiosas: equilíbrio fiscal, transparência e inovação são fundamentais para o crescimento sustentável.