No primeiro trimestre de 2025, a economia portuguesa apresentou um desempenho abaixo das expectativas, registrando uma contração de 0,5% em relação ao trimestre anterior. Embora esse resultado tenha causado apreensão em alguns setores, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, afirmou que essa retração não deve ser encarada com surpresa.
Segundo ele, o recuo representa, na verdade, uma correção natural após um crescimento anormalmente elevado no quarto trimestre de 2024. Naquele período, Portugal liderou o ranking de crescimento econômico entre os países da União Europeia, o que criou uma base de comparação bastante exigente para o início deste ano.
De fato, mesmo com a queda em cadeia, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,6% na comparação com o mesmo período de 2024. Esse dado, divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mostra que, embora haja sinais de desaceleração, a economia ainda está em terreno positivo quando se observa o desempenho anual.
Para o Governo, a expectativa apontada no Orçamento do Estado para 2025 era de um crescimento de 2,1% ao longo do ano. Já o programa eleitoral da Aliança Democrática (AD) projeta uma taxa ainda mais otimista: 2,4%. Ambos os cenários continuam dentro do campo do possível, desde que a economia retome o fôlego nos próximos trimestres.
Joaquim Miranda Sarmento, durante um evento promovido pelo International Club of Portugal, destacou que a economia portuguesa tem potencial para crescer perto de 3% ao ano. Segundo ele, esse deveria ser o ritmo natural de crescimento do país, considerando o seu PIB potencial. No entanto, desafios estruturais continuam a limitar esse desempenho.
Entre os principais fatores que explicam a retração neste primeiro trimestre está a estagnação da procura interna. Mesmo que esse dado possa parecer negativo, o ministro considera-o razoável, tendo em vista o crescimento expressivo dessa mesma procura nos últimos meses de 2024.
Além disso, outro ponto relevante foi a desaceleração do investimento em construção. Os dados do INE, que usam o consumo de cimento como indicador indireto, mostraram um forte aumento nas compras nos últimos meses do ano passado — especialmente em novembro e dezembro —, o que pode ter antecipado parte da atividade esperada para este início de ano.
O consumo privado também deu sinais de cansaço. A tendência de crescimento observada anteriormente perdeu força, e isso afetou diretamente o ritmo da economia. O mesmo vale para o investimento privado, que evoluiu menos do que o esperado, impactando o desempenho geral.
Um outro componente que pesou no resultado foi o aumento das importações. De acordo com Miranda Sarmento, essa alta pode estar ligada à antecipação de tarifas norte-americanas, o que levou muitas empresas a importar antes da implementação dessas novas taxas. Esse comportamento, apesar de estratégico, prejudica a balança comercial no curto prazo e reduz o PIB.
Mas o principal entrave ao crescimento econômico em Portugal, na visão do ministro, é a baixa produtividade. Esse é um problema histórico do país, que reduz a competitividade frente a outras economias e limita a capacidade de gerar riqueza sustentável. A solução passa por reformas estruturais, investimentos em inovação, capacitação da força de trabalho e melhorias no ambiente de negócios.
Durante o evento, o ministro também aproveitou para fazer um breve balanço do primeiro ano de governação. Ele destacou que uma das metas centrais do Governo é justamente aumentar a produtividade para destravar o crescimento. Com isso, seria possível gerar mais riqueza, permitir salários mais altos e, ao mesmo tempo, reduzir a carga fiscal — sem comprometer as receitas do Estado.
Os números do INE confirmam o que os economistas já previam: uma desaceleração, mas não tão intensa. As projeções apontavam para um crescimento homólogo entre 2,4% e 2,8%, e um avanço trimestral entre 0,1% e 0,6%. A realidade veio abaixo dessas estimativas, refletindo uma dinâmica econômica mais cautelosa do que o antecipado.
Mesmo assim, a expectativa do Governo é de que os próximos meses tragam alguma recuperação. O segundo trimestre poderá ser determinante para avaliar se a economia está apenas em uma fase de ajuste ou se há motivos para preocupação mais profunda.
Enquanto isso, as políticas públicas precisam ser calibradas com cuidado. Estímulos que favoreçam o investimento produtivo, a inovação tecnológica e a formação profissional podem fazer toda a diferença. Afinal, uma economia forte e resiliente não depende apenas de números de curto prazo, mas de um plano bem estruturado para o futuro.
Em resumo, a queda do PIB no início de 2025 não é motivo para alarde, mas sim um alerta para os desafios que o país precisa enfrentar. A trajetória do crescimento econômico em Portugal ainda pode ser retomada, desde que as medidas certas sejam implementadas no momento certo. A economia dá sinais, e cabe ao Governo — e à sociedade — saber ouvi-los e agir com inteligência.