Em tempos em que as relações parecem cada vez mais efêmeras, histórias como a de Odileta e Paschoal aquecem o coração. Eles não apenas viveram juntos por 74 anos, como também partiram deste mundo no mesmo dia, com apenas 10 horas de diferença. Um amor que começou de forma inusitada e terminou comovendo toda uma cidade — e agora o país.
O cenário desse romance digno de filme foi Votuporanga, interior de São Paulo. No dia 17 de abril, Odileta faleceu às 7h da manhã, aos 92 anos. Já Paschoal, seu companheiro de vida, partiu às 17h, aos 94. Ambos morreram em casa, no mesmo quarto onde dividiram tantos momentos.
A história dos dois começou quando ainda eram adolescentes. Ela, nascida em Mirassol, e ele, natural de Bálsamo, se encontraram pela primeira vez na praça da Matriz, em Votuporanga. Odileta tinha apenas 15 anos; Paschoal, 18. O destino agiu de maneira curiosa: uma correntinha que ele usava escapou e foi parar no braço dela. Esse pequeno acaso resultou em olhares, risos e, mais tarde, em amor verdadeiro.
Desde então, trocaram cartas apaixonadas, registros sinceros de um sentimento que só cresceu com o tempo. Veja abaixo as cartas escritas entre o casal ao longo dos anos:
Essas mensagens revelam a delicadeza do relacionamento, o carinho do início e o compromisso que os uniu até o fim. Em uma das cartas, Paschoal escreve que desejava viver ao lado dela por mil anos. Em outra, Odileta o chama de “meu anjo” e afirma que jamais o esqueceria. Palavras que hoje se transformam em herança emocional para filhos, netos e bisnetos.
Eles se casaram em 15 de abril de 1951, exatamente no dia em que Paschoal completou 20 anos. A cerimônia aconteceu na fazenda da família de Odileta. A data, que já era especial, ganhou ainda mais significado com o nascimento da primeira neta e da primeira bisneta, anos depois, no mesmo 15 de abril.
Ao longo da vida, formaram uma família sólida e deixaram um legado de generosidade. Criaram seis filhos e atuaram em ações sociais na cidade, auxiliando gestantes em situação de vulnerabilidade e distribuindo alimentos a quem mais precisava. Segundo o genro Luciano Leal, o amor que compartilhavam se estendia ao próximo. Ele os define como “almas gêmeas”.
Mesmo nos últimos anos, quando a saúde já não era a mesma, o vínculo entre eles seguiu inabalável. Odileta foi diagnosticada com Alzheimer e recebeu os cuidados carinhosos do marido. Quando Paschoal descobriu um câncer no intestino, em 2023, pediu a Deus que não os deixasse separados. Seu desejo, tocante e sincero, foi atendido.
A família pôde celebrar os 74 anos de casamento dois dias antes da despedida. Um encontro íntimo, cheio de afeto e significado, como sempre foi a história dos dois. Segundo Luciano, eles sempre disseram que gostariam de partir juntos — e assim foi.
“Eles vieram, se viram e venceram esse amor imenso que tinham um pelo outro. Deixaram uma família linda e um exemplo eterno de companheirismo, respeito e entrega”, diz o genro, emocionado.
Essa história, repleta de simbolismos e ternura, nos convida a acreditar no poder do amor verdadeiro. E, acima de tudo, a valorizar os pequenos momentos — porque, no fim, são eles que constroem uma vida inteira.