Venda das joias, Bolsonaro golpista, dinheiro em caixa de vinho: os principais pontos da delação de Mauro Cid

Notícia

O sigilo da delação premiada de Mauro Cid foi derrubado nesta quarta-feira (19) por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro fez uma série de revelações impactantes, detalhando a trama golpista que teria sido orquestrada para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele também expôs o esquema envolvendo a venda de joias sauditas e até o uso de dinheiro armazenado em uma caixa de vinho.

As declarações de Cid foram essenciais para a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que acusa Bolsonaro, Cid e outras 32 pessoas de envolvimento em um complô contra a democracia brasileira.

O Esquema da Venda de Joias

Mauro Cid revelou que ele e seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, repassaram um total de US$ 86 mil (aproximadamente R$ 489 mil na cotação atual) a Bolsonaro entre 2022 e 2023. Esse dinheiro era fruto da venda de joias recebidas pelo então presidente como presentes do governo da Arábia Saudita. Porém, esses bens pertenciam ao Estado brasileiro e não poderiam ter sido comercializados.

Segundo Cid, entre os itens vendidos estavam um Rolex e um Patek Philippe, arrematados por cerca de R$ 68 mil, e um kit de joias Chopard, vendido por R$ 18 mil. As transações ocorreram nos Estados Unidos em 2022. Antes de repassar os valores ao ex-presidente, Cid descontou despesas com passagens e aluguel de carro.

O esquema envolvia a transferência dos valores de diferentes formas: parte foi entregue diretamente a Bolsonaro por Cid, outra parcela foi repassada através de seu pai e um montante adicional foi entregue a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro.

A Tentativa de Golpe de Estado

Outro ponto crítico da delação diz respeito à tentativa de impedir a posse de Lula. Bolsonaro é acusado de liderar uma organização criminosa com o objetivo de subverter a democracia. Cid relatou que participou de reuniões em que militares discutiam a possibilidade de uma intervenção, mas alegou que não esteve envolvido diretamente no planejamento detalhado.

Ele descreveu a existência de grupos dentro das Forças Armadas: um mais radical, que defendia uma ação direta para manter Bolsonaro no poder, e outro que tentava conter o ex-presidente. Uma das estratégias discutidas foi o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes para descobrir possíveis encontros entre ele e o vice-presidente da época, Hamilton Mourão.

O STF prevê que Bolsonaro seja julgado por essas acusações em 2025, evitando influência no próximo pleito eleitoral.

O Papel dos Filhos de Bolsonaro

A delação também revelou divisões dentro da própria família Bolsonaro. Flávio Bolsonaro (PL-RJ), senador, defendia que o pai aceitasse a derrota e se consolidasse como líder da oposição. Por outro lado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado, estava entre os mais radicais e insistia para que o ex-presidente resistisse.

Eduardo era parte de um grupo que se dividia entre aqueles que buscavam provas de fraude para justificar uma recontagem e aqueles que defendiam uma ação armada, contando com o apoio de militares e civis armados (CACs). Esse grupo incluía nomes como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o ex-ministro Onyx Lorenzoni, o ex-assessor Felipe Martins e o senador Jorge Seiff.

Enquanto isso, Flávio integrava uma ala conservadora que argumentava que um golpe de Estado poderia ser um erro estratégico e que Bolsonaro deveria focar em construir uma oposição democrática.

O Dinheiro em Caixa de Vinho

Uma das revelações mais surpreendentes foi a entrega de dinheiro vivo dentro de uma caixa de vinho. Cid afirmou que recebeu essa quantia do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro em 2022. O montante teria sido entregue no Palácio da Alvorada e destinado à organização do golpe.

Cid declarou que, após receber o dinheiro, o deixou na biblioteca do Alvorada até que Rafael Martins de Oliveira, um dos articuladores do movimento golpista, o recolhesse. Ele afirmou não saber o valor exato da quantia, pois a caixa estava lacrada.

A delação também menciona uma reunião de 28 de novembro de 2022, onde militares conhecidos como “kids pretos” (formados no Curso de Forças Especiais do Exército) discutiram estratégias golpistas.

Pressão Sobre Mauro Cid

Cid revelou que, após iniciar sua delação, foi alvo de pressões de aliados de Bolsonaro para compartilhar detalhes de seus depoimentos. Ele relatou que o general Braga Netto e o advogado Fábio Wajngarten tentaram obter informações.

Diversos intermediários teriam entrado em contato com seu pai e sua esposa para descobrir o que ele havia dito à Polícia Federal. Braga Netto chegou a solicitar ao STF acesso à delação, mas teve o pedido negado.

Os Termos do Acordo de Delação

Mauro Cid firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, oferecendo informações comprometedoras sobre Bolsonaro e seu entorno em troca de benefícios. Ele pediu que suas penas fossem reduzidas para, no máximo, dois anos de prisão e que seus bens apreendidos fossem devolvidos. Além disso, solicitou proteção para si e sua família.

O STF alertou que os benefícios só serão concedidos caso as informações sejam comprovadas. Em novembro de 2024, foram apontadas inconsistências em seu depoimento, e ele precisou prestar novos esclarecimentos para evitar o cancelamento do acordo.

Conclusão

As revelações de Mauro Cid lançam luz sobre um dos momentos mais turbulentos da história recente do Brasil. Com a investigação em andamento e possíveis novos desdobramentos, o futuro político de Bolsonaro e seus aliados segue incerto. O julgamento do ex-presidente será um dos eventos mais aguardados de 2025.

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