A cidade de Coribe, no interior da Bahia, vive um momento delicado após denúncias envolvendo a Escola Estadual São João dos Gerais. Mães de crianças autistas e com outras deficiências acusam a instituição de se recusar a realizar a matrícula dos seus filhos, mesmo com toda a documentação exigida em mãos. O episódio ganhou força e está mobilizando autoridades e a comunidade local, que clama por respeito e inclusão.
Segundo os relatos das mães, elas procuraram a escola para garantir o direito à educação dos seus filhos, mas foram surpreendidas pela postura da direção. Mesmo após apresentarem os laudos e os documentos exigidos por lei, a matrícula simplesmente não foi efetivada. A justificativa, segundo as mães, foi uma suposta orientação da diretoria que, até o momento, não foi formalmente esclarecida.
Em busca de uma solução, na tarde da quinta-feira (09), as mães entregaram um ofício à direção da escola, pedindo uma resposta oficial. No entanto, a diretora da instituição, identificada como Romilda, teria se recusado a assinar o termo de recebimento ou a dar qualquer esclarecimento por escrito. A atitude gerou ainda mais revolta entre as famílias envolvidas.
Ao ser procurada pela imprensa local, Romilda negou que tenha havido recusa de matrícula. Segundo ela, os casos estão sendo avaliados em conjunto com as secretarias de educação do município e do estado. Ainda de acordo com a diretora, os alunos com necessidades especiais estariam passando por um processo de “aceleração” para ingresso escolar. No entanto, essa prática não tem respaldo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que determina que a reclassificação de estudantes deve ser feita apenas em casos específicos, como defasagem entre idade e série, e sempre com acompanhamento pedagógico contínuo.
Outro ponto que gerou polêmica foi a fala de Romilda questionando os diagnósticos apresentados pelas famílias. Segundo ela, os documentos não estariam assinados por equipes médicas formalmente qualificadas, o que, em sua visão, comprometeria a validade dos laudos. Essa declaração, além de controversa, fere princípios básicos de respeito e acolhimento, principalmente em relação às famílias que já enfrentam diversas barreiras no acesso a direitos básicos.
A Secretária Municipal de Educação, por sua vez, rebateu a versão da diretora. Em declaração pública, ela afirmou que não houve nenhum tipo de articulação conjunta com a direção da escola, e que todos os alunos possuem laudos emitidos por equipe multidisciplinar, dentro das exigências legais. A secretária também destacou que o município possui uma política séria voltada à educação inclusiva, e que a gestão está comprometida em garantir o direito de cada criança e adolescente, sem exceção.
O caso levantou um debate importante sobre como as instituições públicas estão lidando com a inclusão de alunos com deficiência. Em um país onde o acesso à educação ainda é um desafio para milhares de crianças, relatos como esse revelam que o preconceito e a desinformação ainda são barreiras reais dentro das próprias escolas.
É fundamental lembrar que a Constituição Federal assegura o direito à educação a todos os brasileiros, sem qualquer tipo de discriminação. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) reforça esse princípio, estabelecendo que nenhuma criança pode ser impedida de frequentar a escola em razão de sua condição física, intelectual ou sensorial. A negativa de matrícula, ainda que disfarçada por trâmites administrativos ou questionamentos técnicos, é uma forma clara de violação de direitos.
Enquanto a situação segue sendo investigada pelas autoridades competentes, as famílias aguardam uma resposta concreta. O que elas pedem não é privilégio, mas sim o cumprimento da lei e o respeito à dignidade de seus filhos. É papel das escolas acolher, adaptar e educar, garantindo que todos tenham a oportunidade de aprender e se desenvolver plenamente.
Casos como o de Coribe mostram que ainda há um longo caminho a ser percorrido quando se trata de educação inclusiva no Brasil. Mas também mostram a força das famílias, que, mesmo diante da resistência, não se calam. Lutam por um futuro mais justo, onde todas as crianças, sem exceção, possam ocupar o seu lugar na escola e na sociedade.
Esse episódio deve servir de alerta e de ponto de partida para mudanças reais. A formação contínua dos profissionais da educação, o reforço de políticas públicas inclusivas e a fiscalização rigorosa das instituições são passos urgentes para garantir que situações como essa não se repitam. Mais do que cumprir uma obrigação legal, incluir é um ato de humanidade.