O coach e influenciador de extrema direita, Pablo Marçal, voltou a ser condenado pela Justiça Eleitoral. Desta vez, a decisão envolve acusações sérias de abuso de poder eleitoral, captação e gastos ilícitos de recursos, além de uso indevido dos meios de comunicação durante sua candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2024. A sentença, assinada pelo juiz Antonio Maria Patiño Zorz, da 1ª Zona Eleitoral da capital, também decretou sua inelegibilidade por oito anos e uma multa de R$ 420 mil pelo descumprimento de ordens judiciais, conforme revelou a coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
Apesar de ser apenas a mais recente de suas derrotas na Justiça, essa condenação acentua ainda mais o desgaste de sua imagem pública. Em fevereiro de 2024, Marçal já havia sido impedido de disputar eleições futuras. Na ocasião, a Justiça o puniu pela prática de oferecer vídeos de apoio a candidatos da direita em troca de transferências via Pix no valor de R$ 5.000.
A nova ação, que levou à atual condenação, foi movida pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), representado pela deputada federal Tabata Amaral. Concorrente direta de Marçal na disputa pela prefeitura, Tabata denunciou o ex-candidato por práticas eleitorais proibidas. O PSB apontou que Marçal incentivava a divulgação de seus vídeos por eleitores, caracterizando infração à legislação eleitoral.
Além disso, o Ministério Público Eleitoral reforçou as denúncias ao pedir uma investigação contra Marçal por abuso de poder econômico. Segundo as acusações, o coach teria desenvolvido uma estratégia para cooptar colaboradores e apoiadores, oferecendo promessas de ganhos financeiros em troca da promoção de seus conteúdos nas redes sociais e plataformas de streaming.
A Justiça entendeu que essas práticas configuraram um desequilíbrio no pleito. Impulsionar publicações com apoio financeiro de cabos eleitorais disfarçados de eleitores comuns, além de prometer vantagens, são atitudes expressamente proibidas e severamente punidas pela legislação brasileira.
Outro ponto grave levantado no processo foi a forma como Marçal arrecadou recursos para sua campanha. Segundo a decisão, houve captação ilícita de verbas sem o devido registro junto à Justiça Eleitoral, o que comprometeu a transparência do processo. Valores financeiros não declarados dificultam a fiscalização e afetam diretamente a lisura das eleições.
Em agosto de 2024, em resposta a essas irregularidades, o juiz determinou a suspensão temporária dos perfis oficiais de Pablo Marçal nas redes sociais. A medida também proibiu o pagamento aos chamados “cortadores” de vídeos de campanha, que editavam e disseminavam trechos favoráveis ao candidato. A plataforma Discord, usada como alternativa para manter a militância ativa, também foi bloqueada para impedir novos abusos.
Apesar da ordem judicial, Marçal incentivou seus apoiadores a continuarem com a divulgação dos conteúdos. Essa atitude de desobediência resultou em uma multa diária de R$ 10 mil, que acumulou o valor de R$ 420 mil ao longo de 42 dias.
A defesa de Pablo Marçal alegou que não havia conhecimento prévio dos fatos imputados, negou a existência de provas concretas de abuso de poder e minimizou a gravidade das irregularidades. Segundo seus advogados, as ações não teriam influenciado de forma significativa o resultado das eleições.
Em contrapartida, o advogado do PSB, Hélio Silveira, foi enfático ao afirmar que Marçal “venalizou as eleições” e que sua conduta feria princípios básicos da democracia. Para ele, a inelegibilidade era a medida necessária para preservar a integridade do sistema eleitoral.
Tabata Amaral também se manifestou após a decisão. Em nota oficial, a deputada declarou que Pablo Marçal “vive de vender o segredo do sucesso”, mas que seus métodos são baseados no desrespeito às leis. Tabata enfatizou que, desde o início da campanha, alertava para as práticas ilegais do coach. Mesmo diante de resistência de outros candidatos, ela afirmou que manteve a postura firme de denunciar as irregularidades e recorrer à Justiça.
Segundo ela, a série de vitórias judiciais só comprova a importância de enfrentar quem tenta fraudar o processo eleitoral e enganar o eleitorado. Tabata reforçou que seguirá vigilante e não recuará diante de novos desafios.
Procurado para comentar a decisão, Pablo Marçal não respondeu às mensagens enviadas pela reportagem.
Com essa condenação, Marçal enfrenta agora sérios obstáculos para seguir na vida pública, e seu futuro político fica cada vez mais incerto.